domingo, 15 de agosto de 2010

Romaria de São Sebastião - 05/09/2010

“Há pouco tempo atrás, por nímia gentileza do distinto casal de amigos, Sr. Luciano e dona Guiomar Ferraz de Godói, fui conhecer e desenhar, in-loco, a graciosa Capelinha de São Sebastião da Pedreira, situada perto do centenário e ora extinto arraial do Ouro Fino. O panorama que por lá presenciei, dada a sua pureza e magnitude, jamais sairá do meu sentido. Pois, tudo por ali insinua paz, ternura e felicidade. O arvoredo circulante ao penedo negro e altivo, nesse dia, achava-se muito freqüentado por dezenas de aves canoras, típicas da região: tiés, puvis, sabiás, bem-te-vis, pássaros-pretos, etc., e até mesmo bandos de seriemas entoando as suas récitas selvagens pelos campos ensolarados” (Octo Marques, artista plástico e literato. Cidade Mãe – Causos e Contos, p.102)

A romaria é uma velha tradição ligada à formação da nacionalidade luso-espanhola, desde o tempo da romaria de São Tiago de Compostela, essas festas reúnem milhares de pessoas nos mais diversos e distintos pontos do sertão, funcionando como feiras e como ponto de encontro. Desempenharam papel de enorme relevância na vida do sertão, e continuam a desempenhar nos lugares ainda despovoados e atrasados.
A pedreira de São Sebastião é um lugar atribuído no sentido diferenciado pela memória e pela vida social mobilizando a gente mais próxima e reaproximando os que estão longe, para que se reviva o sentimento de participar e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. Ao lado do culto religioso, há o lado profano dos jogos, do mulherio, da comilança e da bebedeira.
A secular Romaria de São Sebastião, que acontece no primeiro domingo de setembro entre Ferreiro e Ouro-Fino, poderia se tornar um bem registrado como patrimônio cultural imaterial pela notável festa que marca a vivência da religiosidade em dado espaço – a pedreira de São Sebastião – onde se concentram para a prática cultural coletiva.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) define como patrimônio cultural imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante do patrimônio cultural.
“Conheço um lindo demais! Fica entre Ferreiro e Ouro Fino. É uma pedra muito linda, parece que ela levantou numa grota, mas ela ficou muito alta, muito linda, chama-se pedra São Sebastião. Fizeram uma imagem lá em cima e todo ano os devotos vão ali rezar, até hoje, todo ano. E fazem festa lá todo ano, festa muito animada, e sobem por uma escada para ir lá onde está o santo. Muito bonita, a pedra. (Maria Abadia Januária. Nº da entrevista:40. Dossiê de Goiás)”

Um mistério envolve a história do padroeiro da Pedreira, mistério esse que os antigos atribuem a mais um milagre de São Sebastião e que lhe rendeu o apelido de “Santo Fujão”.
Diz a tradição oral que nos arredores da Pedreira, encontraram a imagem do Santo, levando-a à Igrejinha. Pensando os fieis que seria o melhor lugar. O mistério é que a imagem havia desaparecido, e, encontrada na pedreira. O fato mexeu com todos. Foi aí que algumas pessoas colocaram o Santo novamente na capela e ficaram de vigília no lado de fora, dia e noite. Não adiantou, a imagem voltou para o seu local de origem. O trabalho foi intensificado, o Santo foi trazido mais uma vez, e este passou a ser vigiado por dentro e por fora o dia inteiro. E aí o milagre aconteceu à vista de todos os presentes: a imagem sumiu e apareceu na pedreira.
Essa lenda ocorre em outras diversas regiões brasileiras. Por exemplo, em Natividade, o santo fujão é o Senhor do Bonfim no qual construíram uma capela no distrito do Bonfim, lugar onde foi encontrado o santo.
A Romaria de São Sebastião ainda não foi inventariada por órgãos competentes. Fica aqui o desejo desse estudo a fim de conhecer e documentar o bem cultural o que certamente propiciará a identificação de problemas e soluções para a salvaguarda dessa manifestação ante ao seu esquecimento.

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